terça-feira, 21 de abril de 2009

VENTANDO PELO MEU CORPO

O vento às vezes me apavora, pela força, velocidade, pela falta de cara, de definição. O vento assola as coisas, derruba, varre, arranca. Forma tempestade, faz voar as coisas, desorganiza. O vento, às vezes, entra em nós, pelas narinas, circula em volta pelas veias, invade as artérias, desarruma o cérebro, confunde a mente e eu minto.

Minto para meus anseios, minhas dúvidas, minhas esperanças, meus sentimentos, minto pela força do vento que vem de longe e invade meu ser como sendo a sua casa, sua propriedade. Eu minto para mim mesmo. Eu não gosto do vento. Eu minto.

O vento que não gosto tem um gosto amargo, talvez cítrico, uma oleosidade que desliza pela língua, que envolve a boca como o tanino do vinho. O vento envolve com aromas, seduz pela necessidade aconchego que consegue gerar em nós. É como se quiséssemos buscar abrigo, refúgio, proteção. Faz-nos salivar.

A saliva provocada pelo vento que enche a boca provoca reações que não posso controlar, são flashes de momentos sem nexo que invadem a atmosfera que circula o corpo. Vem o medo, a rejeição, a insegurança. Mescla de sentimentos que podem ser barrados pela porta da realidade.

A porta que permanece muitas vezes aberta, para poder trazer ao meu corpo as sensações que me fazem sentir humano, presente, nu...

Essa nudez expõe minha alma para que eu possa enxergar sem véus, as formas obscuras e tortuosas que o caminho da vida traça a cada momento. Como uma parada, onde meu corpo gira em torno de si mesmo, olhos parados, fixos, atentos. Toda a emoção, sensação voltada para o interior, sem ligações com o externo. Como se o mundo ao redor não existisse. Um vácuo, uma ausência de tudo.

Na ausência eu encontro o sentido, talvez do próprio momento de libertar-se das amarras da vida e perceber o vácuo, o vazio. O sentido está na percepção, na capacidade de transpor essas barreiras mundanas e materiais e atingir o ponto certo de poder olhar para si mesmo, ou em outras situações, olhar ao redor apenas como observador.

Às vezes o observar é mais participante que os próprios executores da ação. Quando raramente paro para observar algo, percebo o quanto estou perdendo, o quanto de conteúdo as coisas nos trazem.

Vivo em busca de conteúdos que possam encher minha alma de alguma coisa que não sei ao certo. Uma vontade de querer sempre mais e ir além. Busco montado no vento uma forma de espalhar-me por tudo. De fazer parte do todo. Estar na essência das coisas, saber os porquês e suas respostas.

Por outro lado, o vento me leva daqui, me afasta, me faz rodar em rodopios loucos que confundem minha mente e meus sentimentos. Perco valores, referências, direção. Então eu caio. Caio num susto, como de um pesadelo que faz sonhar acordado eu caio. O chão torna-se duro novamente e a dor da queda pertence à alma.

A alma fortifica-se a cada tombo e eu consigo então esperar a próxima tempestade formar-se. Acho que gosto do vento.

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